A paganização do Cristianismo

10/12/2011 20:29

 


Por Ana Caroline Campagnolo

Considerando a história da Igreja, podemos dividi-la em três períodos, a saber, Período da Igreja Primitiva, dos anos 30 a 590 d.C; Período da Igreja Medieval, nos anos 590-1517, e finalmente o Período da Igreja Contemporânea, de 1517 até o presente.

Além dos martírios, acentuaram-se neste período os erros doutrinários como gnosticismo, neoplatonismo, montanismo e monarquianismo. Questões como o combate a heresia e liderança em tempos de perseguição - tendo em vista que os 12 apóstolos já estavam mortos - incentivaram os primeiros passos da idéia de primazia do bispo de Roma.

O cessar das perseguições chegou com a “conversão” de Constantino.  Seu filho, Teodósio, o Grande, faz do cristianismo a religião oficial do império, tal atitude, porém, acabou por modificar o puro cristianismo manifestado nos três primeiros séculos. Por muito tempo, os martírios e o perigo serviram como purificadores, na nova fase de aparente paz, a prosperidade da própria igreja tornou-se ameaça ao abrir caminho para a corrupção eclesiástica que viria na Idade Média.

A partir do ano 500, o título “papa” (pai, em italiano) passou a denominar exclusivamente o bispo de Roma, este mesmo, viria a tornar-se “bispo universal” com base na errônea doutrina romana da primazia de Pedro e sua sucessão. Também foi neste primeiro período da Igreja, que surge a idéia de monastério como método para alcançar a santidade através do isolamento do mundo.

O Segundo Período da Igreja é caracterizado principalmente pelo ápice papal e contaminação do Cristianismo. Logo nos primeiros anos (590-604) Gregório I deu ênfase ao conceito de purgatório e ao caráter sacrificial da missa. Nicalau I (858-867) resolveu usar coroa e ainda se pôs a reclamar a supremacia papal. No ano 1054, porém, ocorre o cisma da Igreja Romana e a formação da Igreja Ortodoxa Grega. Há bons motivos para tais desavenças, a igreja permitira a presença de imagens nas igrejas, além de outras diferenças doutrinárias como o conceito de dupla procedência do Espírito Santo, e o uso de pães sem fermento na missa.

A partir de então, as incoerências papais só fizeram aumentar. UNGER esboça o seguinte sobre o papa Inocêncio III (1190-1216):

 

Ele assumiu muitos títulos, como “vigário de Cristo”, etc. e subordinou o Estado à Igreja (...), decretou necessidade de confissão auricular e doutrina da transubstanciação. Iniciou a Inquisição papal, exterminou os heréticos e patrocinou a quarta cruzada,  (2006, 729)

 

O Papa Bonifácio VIII (1294-1303) não ficou para trás no amontoado de declarações heréticas. Ele faz a famosa declaração de que há “um única Santa Igreja Católica  (Universal) e Apostólica, e que fora desta não há nem salvação nem remissão dos pecados”, afirmação esta que se torna não tão ridícula quando comparada à que a segue, de que “é indispensável à salvação que toda criatura humana esteja sujeita ao pontífice romano”. Não bastassem as declarações papais a contaminar a imagem e fé dos cristãos, a imoralidade do clero começou a ampliar-se, começaram a ser vendidos os ofícios da igreja e também indulgências. A necessidade de uma reforma estava cada vez mais evidente, reforma esta que deu seus primeiros passos notáveis com John Wycliffe, John Huss e Savanarola.

O grande nome da Reforma foi Martinho Lutero (1483-1546), monge agostiniano que em 31 de outubro de 1517 afixou as noventa e cinco teses contra o abuso do sistema de indulgências e em 1522 traduziu o Novo Testamento para o alemão. A fé reformada, e logo em seguida o Calvinismo, começaram a alastrar-se pelo mundo; em menos de meio século o avanço pela Europa foi grandioso. Evidentemente o papado revidou. Na Contra-Reforma católica onze livros apócrifos foram incluídos no NT, a Inquisição e suas táticas impiedosas foram reafirmadas como meio de combater “hereges”, a ordem dos jesuítas foi fundada e também o Índex foi criado (uma lista de livro que não deviam ser lidos). Ainda assim a Igreja Católica não conseguiu acabar com o Protestantismo ou trazer de volta muitos dos seus fiéis que trocaram de lado.

Catolicismo e Protestantismo seguem caminhos diferentes ainda na contemporaneidade, sem impedir, porém, que continuassem a existir ramificações de ambos os lados.

O Catolicismo entra na categoria das falsas religiões. O mais lamentável é como a Igreja Católica e seus dogmas, mesmo não resistindo ao exame bíblico, ainda assim conseguem manter numerosos fiéis. Acredito que os motivos podem ser os mais variados, desde a cegueira espiritual até a falta de leitura e conhecimento da bíblia a que estão sujeitos os membros.

Apesar de a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) mencionar que sua origem se dá no ano 33 d.C., ela tem suas origens na corrupção e desvio da primeira igreja, aquela que foi de fato inaugurada por Cristo. Durante os três primeiros séculos a perseguição contribuiu para a purificação da Igreja, mantendo nela apenas aqueles de fato devotavam-se a Cristo. Porém, a partir da “romanização do cristianismo”, ou da “cristianização de Roma” a igreja passou por um longo período de degradação moral, doutrinária e espiritual.

PAPADO: Entre os incontáveis erros doutrinários apregoados pela ICAR está o papado e seus enlaces. Em primeiro lugar, o papado instituiu-se baseado na teoria de que Pedro foi bispo de Roma, isto, porém, não se confirma historicamente. No ano de 48, aconteceu o Concílio de Jerusalém, onde se reuniram apóstolos e outros irmãos para discutirem questões doutrinárias. Segundo o capítulo 15 de Atos dos Apóstolos, embora Pedro tenha participado do Concílio, o presidente foi Tiago. Posteriormente, no ano 58, quando Paulo escreveu sua carta aos romanos, saudou muitos irmãos, porém não citou a Pedro. Esse fato seria desleixo e irresponsabilidade caso Pedro fosse de fato líder em Roma. E não bastasse isso, alguns anos depois, conforme narra Atos 28.30,31, Paulo, tendo chegado a Roma recebeu visita de irmãos, a narração não cita Pedro. Acrescenta-se ainda o fato de que Paulo escreveu de Roma, quatro cartas, e em nenhuma delas citou ou atribuiu liderança ou superioridade eclesiástica a Pedro. Em seu livro[1], REIS afirma: “Se Pedro estivesse em Roma poder-se-ia supor a gravíssima omissão do seu nome em todas as quatro Cartas? E se fosse daquela cidade o bispo, o plenipotenciário de Cristo, seria concebível tamanho esquecimento?”

Em segundo lugar, a doutrina papal alicerça-se no sofisma de que a narração de Mateus 16.16-18 trata Pedro como a pedra sobre a qual Jesus edificaria sua igreja. E que o papa seria, então, sucessor deste mesmo Pedro mal interpretado como pedra. Tais afirmações são inconcebíveis tendo em vista que vão contra toda a essência do Evangelho. Porém, tais incoerências ganharam tanto espaço que chegaram a resultar, em 1870, na Declaração da Infalibilidade Papal. Ou seja, os papas são considerados infalíveis em suas decisões e decretos, o que torna ainda mais estranho o fato de a ICAR retroceder das decisões e julgamentos de papas anteriores.

Neste sentido, porém, o que realmente está posto nos versos de Mateus, é que Cristo declara a Pedro que a pedra sobre a qual estaria edificada a igreja, é o conteúdo da sua resposta; que Jesus é “o Cristo, o Filho do Deus Vivo.” O próprio Apóstolo Pedro afirma em sua Primeira Carta no capítulo 2, versos 4 e 5, que Cristo é a Pedra Viva: “À medida que se aproximam dEle [Cristo], a pedra viva – rejeitada pelos homens mas escolhida por Deus e preciosa para Ele – vocês também estão sendo utilizados como pedras vivas para serem sacerdócio santo...” (NVI) Conforme lemos, Pedro nomeia a si e também aos demais irmão na fé como pedras, complementares do corpo de Cristo, porém não como a Pedra Fundamental que é o próprio Cristo (conforme Salmo 118.22 e Efésios 2.20).

MARIOLATRIA: Em terceiro lugar, a Mariolatria, que teve início em 431 d.C., vai contra os mandamentos tanto do Antigo quanto do Novo Testamento. O culto a Maria vem a ser o primeiro passo para o culto de imagens e relíquias, que se instaurou em 787, a canonização de santos, que teve início em 880, e especialmente a definição do dogma da Imaculada Conceição de Maria e da transformação em artigo de fé de sua assunção, que aconteceram, respectivamente, em 1854 e 1950.

Embora os católicos digam não consideram Maria uma deusa, nem prestar a ela adoração, fazem dela, incontestavelmente, usurpadora de Cristo. Ao usarem da intermediação de Maria em suas rezas, ou mencionarem “rogai por nós pecadores”, vão imediatamente contra os textos de I Timóteo 2.5 , Hebreus 10.12-14 e I Pedro 3.18: “Porque há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, a saber, Jesus Crito homem. Jesus, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus aguardando, daí em diante, até que seus inimigos sejam posto por estrado dos seus pés. Porque com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados. Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito.”

O Catolicismo trata Maria como Auxiliadora, Medianeira e Advogada, posições essas que biblicamente são ocupadas apenas pelos membros da Trindade. No filme brasileiro “O alto da compadecida”, Maria apresenta-se no julgamento dos homens ao lado de Jesus; tais doutrinas, porém, são completa e totalmente inversas a mensagem do Evangelho. Em todo o livro do Apocalipse, nenhuma vez Maria aparece desempenhando qualquer função. A Bíblia afirma, como já foi citado, que é o Filho de Deus, Jesus, que está sentado a destra do Pai, e também que Jesus é nosso advogado, conforme I João 2.1: “Se, todavia, alguém pecr, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo.”

Maria, assim como todos os demais seres humanos, precisou amar e obedecer a Jesus como Senhor e Salvador para ter parte no céu, e ainda assim, tendo em vista que morreu, como todos nós um dia morreremos, aguarda o momento de ser ressuscitada para então ver a Deus e a Cristo, como todos os demais cristãos. O próprio Cristo, não atribuiu a Maria nenhuma honra específica quanto a maternidade, inclusive a Bíblia narra em Lucas 8.19-21: “E foram ter com ele sua mãe e seus irmãos, e não podiam aproximar-se dele, por causa da multidão. E foi-lhe dito: Estão lá fora tua mãe e teus irmãos, que querem ver-te. Mas, respondendo ele, disse-lhes: Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a executam.”

PURGATÓRIO: Em quarto lugar, a doutrina do purgatório, que foi aprovada em 1439, mas vinha sendo ensinada desde o ano 593, não encontra base bíblica direta ou indireta. O Purgatório era, segundo a ICAR, um lugar para onde iam os homens que não eram tão maus a ponto de merecerem o inferno, nem tão bons a ponto de merecerem o céu. Não bastasse isso, menciona-se um fogo no purgatório, que serviria para purificar a alma das pessoas até que estivessem em condições de se encontrar com Deus.

Sendo questionado sobre que espécie de gente vai para o purgatório, Papa Pio IV responde:

 

“1. As que morrem culpadas de pecados menores – que costumamos chamar veniais, e que muitos cristãos cometem – e que, ou por morte repentina ou por outra razão, são chamados desta vida, sem que se tenham arrependido destas faltas ordinárias. 2. As que, tendo sido formalmente culpadas de pecados maiores, não deram plena satisfação deles à justiça divina.”[2]

 

Ao que parece então, o Catolicismo desmerece ao mesmo tempo a justiça de Deus e a justificação através de Jesus. O indivíduo, segunda tais doutrinas, não foi suficientemente justificado para pertencer ao céu, nem mesmo suficientemente julgado por Deus para pertencer ao inferno. De fato, fora categoricamente afirmado no Concílio de Trento que: “Se alguém disser que, depois de receber a graça da justificação, a culpa é perdoada ao pecador penitente, e que é destruída a penalidade da punição eterna, e que nenhuma punição fica para ser paga, ou neste mundo ou no futuro, antes do livre acesso ao reino ser liberto, seja anátema.”

A Bíblia, em todas as suas páginas, declara o oposto de tal afirmação católica. As Escrituras coerentemente mencionam:

(1) a perfeita libertação do pecado em João 8.32,36: “e conhecerei a verdade e ela vos livertará. Se pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.”

(2) a completa libertação do Juízo em João 5.24 e Romanos 8.1: “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida. Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.”

(3) a completa justificação pela fé em Romanos 5.1,2: “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.”

(4) o atual estado dos mortos em Apocalipse 14.13: “E ouvi uma voz do céu que me dizia: Bem-aventurados os mortos, que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os sigam.”

E (5) a bem-aventurada esperança de ser salvo em Filipenses 1.21,23: “Portanto, para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muiro melhor.”

A Bíblia declara ainda em Hebreus 9.27 que “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo.”, e em lugar algum das Escrituras encontra-se menção ao dito purgatório. Teria Deus esquecido ou se negado a advertir a humanidade de tal lugar? Estou (totalmente) mais inclinada a crer que a ICAR falha constantemente em seus dogmas, do que crer que Deus teria em algum momento falhado. A salvação oferecida por Cristo é perfeita e total, qualquer mudança nesta afirmação não corresponde ao contexto bíblico, nem ao conselho do Evangelho.A única coisa que pode nos purificar de nossos pecados é Cristo, e seu sangue derramado na cruz para esse propósito, e não o purgatório. Contudo, não bastassem os perigos da doutrina do purgatório, junto a ela aparecem outros ensinos católicos, igualmente nocivos, como (1) a oração pelos mortos e (2) a salvação através das obras.

Em quinto lugar, em 1074, proibe-se o casamento de sacerdotes, e no ano seguinte, os sacerdotes casados são então ordenados a divorciarem-se de suas esposas, o que vai automaticamente contra o exemplo dado por Pedro, e outros apóstolos, que eram casados (Mateus 8.14 e I Coríntios 9.5) e também contra o texto bíblico de I Timóteo 3.2: “É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher...” (NVI)

Enfim, após tantas refutações, conclui-se que apenas a primeira – de que Pedro nunca foi bispo de Roma – era necessária para a desbancada do catolicismo. Se Pedro nunca foi papa, também não existem sucessores de Pedro, e portanto, não existem papas. Logo, aquele a quem vemos assentado na mais alta cadeira do vaticano é nada mais que uma invenção romana, que embora ilógica é bastante criativa.

Louvado seja Deus pelos reformadores!

 


[1] REIS, Aníbel Pereira. Pedro nunca foi Papa nem o Papa é vicário de Cristo. São Paulo: Edições Caminho de Damasco. 1975. página 211.

[2] (A Base da Doutrina Católica Contida na Profissão de fé)



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